O susto provocado pela descoberta do crime organizado 'trabalhando' na Faria Lima está levando o ambiente corporativo, sobretudo a indústria financeira, a uma busca por armas mais robustas que possam frear o crescimento da lavagem de dinheiro. Neste sentido, a tendência que tem se mostrado mais promissora é a adoção dos chamados "copilotos regulatórios". Na prática, eles são assistentes de Inteligência Artificial (IA) que auxiliam equipes de compliance na triagem automática de alertas de transações suspeitas, no enriquecimento de perfis com informações públicas e listas de sanções, na elaboração de relatórios de atividade suspeita e no monitoramento de mudanças regulatórias.
Segundo o Instituto Esfera de Estudos e Inovação, as Comunicações de Operações Suspeitas (COS) enviadas ao Coaf cresceram 766,6% na última década, totalizando 2.566.713 registros apenas em 2024, evidenciando a realidade de que o crime organizado se expandiu rapidamente no país, chegando a movimentar cifras significativas.
Ao mesmo tempo, o ambiente regulatório brasileiro é extremamente complexo. Dados do Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT) mostram que, desde a promulgação da Constituição de 1988 até o final de 2024, foram editadas mais de 7,8 milhões de normas — uma média de 860 novas normas por dia útil. Acompanhar esse volume com métodos tradicionais, muitas vezes manuais, tornou-se praticamente inviável.
É nesse contexto que os copilotos regulatórios se destacam. Mais do que automatizar processos, eles priorizam casos que exigem atenção humana, garantindo que profissionais qualificados concentrem esforços nos riscos mais críticos. Neste contexto é importante destacar a diferença entre 'copiloto' e 'piloto automático': enquanto o segundo atua sozinho, o copiloto prepara, organiza e aponta, mas a decisão final cabe ao profissional humano. Esse modelo preserva responsabilidade, supervisão e integridade nos processos de compliance.
Algumas soluções já disponíveis no mercado conseguem identificar com até 93% de eficácia operações reais de lavagem de dinheiro e com 80% de certeza outros tipos de fraude. Isso é feito por meio de análise de padrões, detecção de anomalias, monitoramento contínuo e screening de sanções, identificação de pessoas politicamente expostas (PEPs) e listas restritivas. E tudo isso ainda pode ser integrado a funcionalidades como a verificação de identidade (KYC/KYB) via biometria facial, por exemplo.
Uma pesquisa recente do Gartner constatou que 67% dos líderes de compliance estão priorizando a melhoria da qualidade das informações utilizadas para detecção de riscos de conformidade. O estudo abordou executivos deste setor elencando a complexidade que eles estão expostos como os regimes regulatórios fragmentados alimentados pelo nacionalismo, estatismo e guerras comerciais; os regulamentos de privacidade, riscos cibernéticos e estratégias de governança de dados das empresas; e o aumento das expectativas das partes interessadas em relação ao rigor na gestão de riscos cibernéticos e ESG.
Quando implementados com governança clara, supervisão humana e atenção à privacidade, os copilotos regulatórios não apenas combatem a lavagem de dinheiro, mas também têm o potencial de apoiar as corporações na superação destes desafios e transformar a forma como instituições financeiras brasileiras lidam com a complexidade regulatória. Adicionalmente eles reduzem custos, aumentam a velocidade e a qualidade das investigações liberando o capital humano para se concentrar em decisões que realmente exigem julgamento e experiência.
Adriano Fernandes, Country Manager da Guardline no Brasil.